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Após danos em culturas sensíveis, ofício destaca cuidados no uso de herbicidas hormonais


Foto: Christiano Antonucci/Secom-MT

Três meses após decisão judicial determinar a proibição do uso do herbicida hormonal 2,4-D no Rio Grande do Sul até o final de 2025, entidades representativas do setor divulgaram ofício com recomendações técnicas para prevenir a deriva desse tipo de produto.

A ação que levou à suspensão da tecnologia se arrastava há cinco anos na justiça e foi movida por um grupo de produtores de frutas que alega prejuízos com o impacto do defensivo que, conforme estudos, se dispersa em um raio de até 30 km do local onde foi aplicado.

Os maiores impactos relatados pelos agricultores são sentidos em vinhedos, com danos na brotação e abortamento de flores que, consequentemente, geram cachos ralos e colheitas menores.

A presidente da Associação Vinhos Finos da Campanha, Rosa Wagner, ressalta que, nos últimos anos, os produtores de uva têm sentido um declínio constante na produção. “Ninguém mais está investindo porque não sabe se vai ter produção. […] há morte dos parreirais porque há um acúmulo de herbicida na planta. […] o direito de produzir livremente é difuso, então temos o direito de produzir sem sermos atingidos por outras culturas”, diz. O 2,4-D é utilizado para o controle de plantas daninhas de folhas largas na soja, milho e arroz, principalmente.

Agora, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), em conjunto com a Associação Nacional das Empresas de Produtos Fitossanitários (Aenda), a Croplife Brasil, a Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) e a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) lança o comunicado de prevenção de uso diante do aumento de relatos de danos em culturas sensíveis associados ao uso inadequado de herbicidas hormonais.

Segundo as entidades, a intensificação das ocorrências acende um sinal de alerta para o setor. Caso o problema se mantenha, há risco de restrições mais severas ao uso desses produtos, comprometendo as estratégias disponíveis para o manejo de plantas daninhas de folhas largas.

“O uso responsável de herbicidas hormonais depende do cumprimento rigoroso de orientações técnicas. A prevenção da deriva é um compromisso coletivo e essencial para proteger culturas sensíveis e garantir a continuidade das ferramentas de manejo disponíveis aos agricultores”, destaca o gerente de Assuntos Regulatórios do Sindicato, Fábio Kagi.

Como aplicar herbicidas hormonais

O Sindiveg reforça que a aplicação de herbicidas hormonais deve ocorrer exclusivamente com pontas de indução de ar capazes de gerar gotas grossas ou extremamente grossas, conforme previsto em rótulos, bulas e receituário agronômico.

“A seleção correta do modelo de ponta e da pressão de trabalho é determinante para alcançar o espectro de gotas recomendado, sendo que qualquer alteração nesses parâmetros, incluindo velocidade de deslocamento ou altura da barra, pode modificar o padrão gerado e aumentar o risco de deriva, exigindo nova conferência e calibração do sistema”, diz o Sindicato, em nota.

De acordo com ofício das entidades, também devem ser reforçadas orientações sobre o volume de calda, privilegiando valores próximos ao limite máximo indicado em bula, de forma a favorecer a formação de gotas maiores e assegurar cobertura adequada, além de confirmar se o agricultor recebeu as instruções necessárias, dispõe de equipamentos adequados e encontra-se apto a conduzir a aplicação conforme bula e receita agronômica.

Instrução ao usuário

O ofício ainda esclarece que, no ato da venda, distribuidores e cooperativas devem orientar o produtor sobre a necessidade de utilizar pontas compatíveis com a tecnologia exigida para herbicidas hormonais.

“Caso o equipamento não possua as pontas adequadas, a substituição deve ser feita antes da aplicação. Para reforçar a materialidade da orientação, recomenda-se registrar que o usuário foi instruído sobre o modelo de ponta, a faixa de pressão, as condições climáticas apropriadas e as culturas sensíveis no entorno da área”, diz trecho do documento.

De acordo com as entidades que assinam o ofício, as condições meteorológicas também são determinantes para a aplicação segura. A recomendação geral é que a umidade relativa esteja acima de 55%, a temperatura abaixo de 30°C e a velocidade do vento entre 3 e 10 km/h, salvo especificações diferentes previstas em cada bula.

O documento alerta para dois cenários meteorológicos que aumentam de forma significativa o risco de deriva:

  • Presença de inversão térmica, muito comum no início da manhã, quando o ar frio permanece próximo ao solo e impede a dispersão das gotas;
  • Correntes convectivas em dias extremamente quentes e secos, quando o solo aquecido faz o ar subir rapidamente e pode arrastar gotas para áreas indesejadas.

“Em ambas as situações, a aplicação não deve ser realizada, reforçando a necessidade de monitoramento contínuo do clima”, destaca.

Culturas sensíveis

As entidades também chamam atenção para a sensibilidade de algumas culturas, como uva, maçã, tomate e algodão, que exigem atenção redobrada à direção do vento, sendo obrigatória a interrupção da aplicação quando houver risco de deslocamento do produto para áreas sensíveis.

O documento ainda reforça a importância do uso exclusivo de produtos devidamente registrados, autorizados para a cultura e adquiridos apenas em distribuidores, cooperativas agrícolas ou diretamente dos fabricantes.

“Antes da compra, devem ser verificadas a integridade da embalagem, a identificação do fabricante, o número de registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a conformidade das informações. Formulações ilegais, incluindo antigas versões de 2,4-D éster butílico, apresentam elevado risco de volatilidade e deriva e que não estão devidamente registradas no Brasil, com potencial de causar danos severos e comprometer a segurança e a rastreabilidade de toda a cadeia”, destaca o ofício.

“O emprego de produtos clandestinos coloca em risco a agricultura e toda a cadeia produtiva. A orientação é clara: identificar, recusar e denunciar qualquer suspeita”, reforça Kagi.

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