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arqueólogos encontram a evidência mais antiga de produção de fogo


Há cerca de 400 mil anos, no que hoje é o leste da Inglaterra, um grupo de neandertais usava sílex e pirita para fazer fogo perto de um ponto de água — não só uma vez, mas várias vezes, ao longo de muitas gerações.

Essa é a conclusão de um estudo publicado na semana passada na revista Nature. Antes, a evidência mais antiga de humanos fazendo fogo tinha cerca de 50 mil anos. Essa nova descoberta mostra que esse passo importante na história da humanidade aconteceu muito antes.

“Muita gente já desconfiava que eles faziam fogo nessa época,” disse Nick Ashton, arqueólogo do British Museum e um dos autores do estudo. “Mas agora podemos afirmar com certeza: ‘Sim, isso realmente acontecia.’”

Desde Charles Darwin, os biólogos consideram o domínio do fogo um marco na evolução da nossa espécie. Os primeiros humanos podem ter usado o fogo para cozinhar seus alimentos. Isso melhorou a dieta, eliminando toxinas e facilitando a absorção dos nutrientes. O fogo também ajudava a manter o calor à noite e a afastar predadores.

Com o tempo, o fogo ganhou novos usos. Cozinhavam casca de árvore para fazer cola, usada para fixar pontas de pedra em lanças de madeira. E, a partir de cerca de 10 mil anos atrás, os humanos começaram a usar o fogo para fundir cobre e outros metais, dando início à civilização.

Um machado de mão estilhaçado pelo calor encontrado próximo ao sítio da fogueira de 400 mil anos; o primeiro fragmento de pirita de ferro encontrado ali em 2017. Crédito… Jordan Mansfield/Projeto Caminhos para a Grã-Bretanha Antiga

Apesar da importância do fogo para a humanidade, descobrir sua origem é um grande desafio. A chuva apaga cinzas e carvão, eliminando as provas do fogo. E mesmo quando os cientistas encontram vestígios raros de incêndios antigos, pode ser difícil saber se foram causados por humanos ou por raios.

A evidência mais antiga do uso de fogo por ancestrais humanos, datada entre 1 milhão e 1,5 milhão de anos atrás, vem de uma caverna na África do Sul. Lá, foram encontrados milhares de fragmentos de ossos de animais que eles caçavam. Desses, 270 mostram sinais de terem sido queimados.

Mas essas pistas não provam claramente que aqueles humanos sabiam fazer fogo. Eles podem ter apenas aproveitado incêndios naturais de vez em quando. Talvez tenham aprendido a acender um graveto no fogo e levar a brasa para a caverna para cozinhar.

Mas esse método tinha suas limitações, explicou Ashton. “Você depende dos raios,” disse ele. “É muito imprevisível, não dá para contar com isso.”

Um passo importante foi quando os primeiros humanos descobriram como fazer fogo quando quisessem, seja batendo pedras para criar faíscas ou esfregando pedaços de madeira até surgir uma chama. “Quando você sabe fazer fogo, todos esses problemas desaparecem,” disse Ashton.

Ashton e sua equipe tiveram a primeira pista de fogueiras antigas em 2013, enquanto escavavam um sítio arqueológico chamado Barnham, no leste da Inglaterra. Por décadas, pesquisadores encontraram ferramentas antigas e outros sinais de humanos primitivos ali. Em 2013, acharam algo novo: pedaços de sílex quebrados de um jeito estranho.

Só um calor muito forte poderia ter estilhaçado aquelas pedras duras. Mas não conseguiram dizer se o fogo que quebrou os sílex de Barnham foi feito por humanos ou por raios.

Nos anos seguintes, os pesquisadores voltaram a Barnham tentando responder essa pergunta, sem sucesso. Até que, num dia de verão de 2021, Ashton teve uma ideia. Enquanto se preparava para tirar uma soneca sob um carvalho, lembrou-se de uma faixa vermelha de argila que tinha visto anos antes. A soneca ficou para depois.

“Pensei: vou dar uma olhada rápida,” contou Ashton.

Ele encontrou a faixa vermelha e logo percebeu que era uma camada de cerca de 60 cm de solo antigo queimado. Será que os humanos tinham feito aquele fogo, ou foi um raio? Ashton e colegas testaram as duas hipóteses.

Nos quatro anos seguintes, analisaram a química do solo e fizeram escavações ao redor. Finalmente, concluíram que, há cerca de 400 mil anos, o local era um ponto de água que os neandertais provavelmente visitavam para caçar.

Um incêndio natural teria deixado marcas longe dali, mas os pesquisadores não encontraram nenhuma. Além disso, a mesma área foi queimada várias vezes ao longo de décadas. E os incêndios eram muito quentes e duravam horas. Os pesquisadores ficaram cada vez mais certos de que gerações de neandertais acendiam fogueiras de propósito em Barnham.

Uma última pista importante foi a descoberta de pedaços de pirita junto com os sílex quebrados pelo calor. Antropólogos já documentaram muitos grupos de caçadores-coletores pelo mundo que fazem fogo batendo pirita contra sílex.

Mais impressionante ainda, disse Ashton, é que as pedras ao redor de Barnham não têm pirita. Ele supõe que os neandertais que faziam fogo ali traziam pedaços do mineral de longe. A fonte mais próxima fica a cerca de 65 km dali.

A pirita foi “a cereja do bolo,” disse Ségolène Vandevelde, arqueóloga da Universidade de Quebec, que não participou do estudo. “No conjunto, é um caso realmente convincente.”

Mas uma pergunta fica: quão comum era fazer fogo há 400 mil anos?

Talvez não muito, disse Michael Chazan, antropólogo da Universidade de Toronto, que também não participou da pesquisa. Outros neandertais na Europa e no Oriente Médio podem ter só coletado brasas de incêndios naturais. Só em lugares como Barnham eles tiveram a chance certa para aprender a fazer fogo.

“Esse experimento parece ser local,” disse Chazan. “Faz sentido pensar que muitos grupos de neandertais não tinham acesso aos materiais para acender fogo.”

c.2025 The New York Times Company



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