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Açúcar e etanol em queda? O desafio das usinas para 2026



Depois de um ciclo de quase três anos com preços bastante remuneradores para o açúcar, as usinas sucroalcooleiras enfrentam uma reversão de cenário que deve apertar as margens na safra 2026/27.

Ao longo deste ano, os preços do açúcar no mercado internacional recuaram 25% em dólar, chegando ao piso de 14 centavos por libra peso, o patamar mais baixo dos últimos cinco anos — nesta sexta-feira, os contratos são negociados a 15 centavos de dólar por libra-peso, por exemplo.

Analistas de casas como o Citi até projetam um repique de preços em 2026, levando a commodity para algo entre 16 centavos de dólar e 17 centavos de dólar. Mesmo nesse cenário, não se trata de uma boa notícia.

A esses preços de açúcar, a produção de açúcar está praticamente no custo de produção — inclusive no Brasil, o País mais competitivo do planeta para a produção de açúcar.

Para complicar o cenário, as perspectivas para o etanol não são exatamente animadoras. Com o petróleo em queda, a competição com a gasolina fica mais complicada. Além disso, a entrada de uma abundante oferta de etanol de milho também joga contra.

Nas contas de Lucas Brunetti, analista da consultoria agro do Itaú BBA, o custo médio de produção do etanol gira em torno de R$ 2,80 a R$ 2,90 por litro para o biocombustível feito de cana.

Por enquanto, o preço de venda do etanol está acima dessa média, mas ele pode ficar ligeiramente abaixo desses valores no ano que vem, segundo o analista.

Para se ter uma ideia da difícil competição com os concorrentes que produzem etanol de milho, basta comprar os custos. Mesmo que o preço do etanol fosse de R$ 2,60 por litro, as usinas que processam o cereal teriam margens reduzidas, mas ainda bastante atrativas.

O Itaú BBA, inclusive, trabalha com um cenário de margem mais baixa no negócio de etanol de milho, o que está longe de ser um problema — mas evidencia a desvantagem da cana neste momento.

“Nós víamos margens de 35% no etanol de milho e agora vemos isso mais próximo de 25%. Não é uma projeção oficial, mas dá uma noção do que avaliamos aqui. Ainda é um cenário bastante construtivo para o setor”, ressaltou  Brunetti.

Um alento é que, no curto prazo, o custo de produção das usinas sucroalcooleiras é menor porque o canavial já está instalado. O dilema está no médio prazo. “No curto prazo, não faz sentido para as usinas pararem de produzir, mas no médio prazo vão diminuir a renovação dos canaviais e com isso limitar a oferta”, alerta Brunetti.

Atualmente, a idade média do canavial no Centro-Sul está em 3,45 anos. “A perspectiva é que no ano que vem envelheça um pouco mais, chegando a 3,6 anos de média”, detalha Ricardo Costa, sócio da Canac, empresa de inteligência de monitoramento de safra.

“Não é um problemão porque, embora o clima não esteja ótimo, está na média ou ligeiramente favorável. Mas é um teto a ser observado para a safra que vem”, completa Costa.

Um colchão para a crise

Financeiramente, esse cenário de preços mais baixos e margens comprimidas vai mostrar como as usinas sucroalcooleiras melhoraram o perfil de dívida. Na média, as companhias entram nesta fase bem mais preparadas que o no último ciclo de baixa, em 2016/17.

Um levantamento feito pela consultoria FG/A a pedido de The AgriBiz traduz essa percepção em números. Ao analisar 35 grupos no setor (que representam quase metade da moagem de cana no Centro-Sul), a consultoria mostra que o indicador de dívida líquida/Ebit saiu de 3,8 vezes em 2016/17 para 2,7 vezes no fim da safra 2024/25.

Em outro sinal de evolução, a liquidez corrente, que mede a capacidade de uma companhia honrar as dívidas de curto prazo, saiu de 1,8 vez em 2016/17 para 2,3 vezes em 2024/25.

Isso é um reflexo também da mudança no perfil de dívida do setor. Há quase dez anos, 28% dos empréstimos e financiamentos venciam em curto prazo, enquanto na safra 2024/25 esse percentual caiu para 16%.

“Nos últimos cinco anos, as usinas passaram a tomar funding mais longo e muito mais barato do que o agro como um todo. As usinas se profissionalizaram, têm um acesso ao mercado de capitais antes de outros segmentos do agro”, explica Tadeu Barreto, gestor de agro do Itaú BBA.



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