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A China não precisa dos chips da Nvidia na guerra da IA, e já está avançando


Outra semana se passou, e a incerteza continua em relação à exportação dos chips avançados de IA da Nvidia para a China. Os defensores da manutenção dos controles argumentam que esses chips ajudariam a construir sistemas militares chineses que ameaçam os EUA e seus aliados. Eles também afirmam que os controles são necessários para manter e ampliar a liderança americana no mercado de serviços de IA.

Mas isso está errado. Esses argumentos partem do pressuposto de que a China não conseguiria avançar em IA sem acesso a esses chips avançados — o que não é verdade.

Chips avançados de IA simplesmente reduzem o custo da inteligência artificial. Os modelos de ponta atuais exigem um grande número de chips para serem treinados e operados. Um chip avançado tem desempenho superior; por isso, são necessários menos chips para atingir o mesmo nível de performance.

Mas os custos da IA podem ser reduzidos de outras formas. Como mostrou a DeepSeek, um design inteligente de software e algoritmos pode reduzir drasticamente a quantidade de chips necessária.

A decisão da China de tornar seus modelos de IA como código aberto, em especial, permite aproveitar o melhor em software e algoritmos para cortar custos. Além disso, os chips de IA representam só uma parte do custo total.

Sistemas baseados em IA envolvem várias outras despesas — engenharia, dados, software e licenças, regulamentação, energia e infraestrutura — em que a China tem vantagens significativas.

Outro ponto é que a performance do hardware depende muito do empacotamento e da interconexão — como os chips são agrupados e conectados. A China pode usar sua expertise de nível mundial nesses dois pontos para alcançar alto desempenho.

Os SuperClusters recém-anunciados pela Huawei são mais potentes que qualquer sistema da Nvidia, mesmo sem usar os chips de IA mais avançados.

Chips avançados também reduzem o custo de energia da IA. Esses chips são fabricados com a tecnologia mais recente da TSMC (e às vezes da Samsung) — cada nova geração é mais eficiente do que a anterior.

Um consumo elevado de energia aumenta o custo e atrasa o ritmo de implantação, já que é difícil garantir acesso rápido a grandes quantidades de energia, especialmente nos EUA.

No entanto, a China está ampliando sua oferta de energia muito mais rápido que os EUA e, por isso, tem mais chances de atender à demanda energética de seus data centers de IA, mesmo que esses consumam mais energia por não terem acesso a chips avançados.

Um consumo elevado também aumenta a pegada de carbono, mas isso não deve limitar as ambições chinesas em tecnologias que considera estratégicas.

Além disso, muitas aplicações de IA não precisam de chips avançados. Diversas aplicações em segurança de redes, reconhecimento facial, análise de imagens médicas, sistemas avançados de assistência ao motorista, logística e robótica podem ser operadas com modelos bem mais simples que os de ponta.

Esses modelos podem ser treinados e executados em chips que a própria China consegue produzir. O país pretende dominar essas áreas. Mesmo em aplicações mais complexas, pesquisas recentes sugerem que modelos de ponta podem ser substituídos por um conjunto muito mais simples — e esse conjunto não exige chips avançados para ser construído nem operado. Portanto, não está claro se a China vai ficar para trás também nessas áreas.

Também não está claro se o desenvolvimento e o uso futuro dos modelos de ponta realmente precisarão de chips avançados. Há sinais de que os ganhos desses modelos estão chegando a um limite.

Diante dos grandes investimentos exigidos, é possível que os modelos futuros sejam diferentes e utilizem menos recursos, incluindo chips. Isso ajudaria a equilibrar ainda mais o campo de jogo, mesmo com controles de exportação.

Também existe a possibilidade de que a China aprenda a produzir seus próprios chips avançados — afinal, o país já investiu pesado em tecnologias com potencial para ultrapassar o atual estado da arte.

No geral, a China consegue mitigar significativamente as desvantagens de não ter acesso aos chips avançados de IA. Além disso, estará disposta a absorver custos iniciais maiores, especialmente em tecnologias de IA para fins militares e estratégicos, porque sabe que pode reduzir custos posteriores graças à escala e à força de sua manufatura.

Não surpreende que a China continue produzindo modelos de ponta competitivos e dominando aplicações baseadas em IA, como robótica e veículos autônomos, apesar dos controles impostos nos últimos anos.

O argumento a favor dos controles pode até parecer razoável — por que não aproveitar a chance de elevar os custos de desenvolvimento de IA na China, mesmo que pouco, se isso não tivesse impacto para os EUA? Mas os custos são significativos.

A China poderia ter sido um dos maiores mercados para as empresas americanas de chips avançados. Os EUA perderam esse mercado. Além disso, os controles transformaram o tema em uma questão de orgulho nacional para os chineses e desencadearam uma onda de investimentos em um ecossistema doméstico de chips de IA.

Não está claro se os EUA conseguirão recuperar participação de mercado mesmo que revertam os controles. A China também retaliou de várias formas — medidas que prejudicaram ainda mais a economia e a geopolítica dos EUA.

Se os EUA querem liderar em IA, controles de chips não são a resposta. É preciso focar em melhorar os ecossistemas de inovação, investimento, energia e regulação. É preciso facilitar a vida dos melhores cientistas de IA do mundo para que vivam e trabalhem no país.

Diversificar, fortalecer e proteger as cadeias de suprimentos de IA. Trabalhar com aliados para liderar o desenvolvimento de padrões e práticas internacionais. Reduzir o custo da IA (por meio de iniciativas de código aberto seletivo ou parcerias público-privadas, por exemplo) para garantir que a IA americana — e seus valores — seja a mais presente no mundo.

E priorizar aplicações de alta complexidade e voltadas a empresas, onde a vantagem competitiva dos EUA é maior diante de um concorrente rápido com muito talento, recursos e vantagens de custo e velocidade.

O valor dos controles de chips de IA é enormemente exagerado. Eles mal retardaram o avanço da China e causaram grandes danos econômicos e geopolíticos aos EUA. É hora de abandoná-los e focar totalmente em manter e ampliar a liderança em IA por meio da inovação.

As opiniões expressas nos artigos de opinião da Fortune.com são exclusivamente de seus autores e não refletem necessariamente as opiniões e crenças da Fortune.

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