Texas processa fabricantes do Tylenol, alegando que ocultaram riscos de autismo


Ken Paxton, o procurador-geral republicano do Texas, processou nesta terça-feira (28) os fabricantes do Tylenol, alegando que as empresas ocultaram os riscos do medicamento para o desenvolvimento cerebral em crianças.

O processo é a mais recente consequência da afirmação do presidente Donald Trump no mês passado de que o uso de Tylenol durante a gravidez pode causar autismo. Essa ligação não foi comprovada.

Paxton entrou com a ação contra a Johnson & Johnson, que vendeu o Tylenol por décadas, e a Kenvue, uma empresa desmembrada que comercializa o medicamento desde 2023.

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O processo no Texas alega que as empresas conscientemente ocultaram evidências dos consumidores sobre as ligações do Tylenol com autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

A ação também afirma que a Kenvue foi criada para proteger a Johnson & Johnson de responsabilidades relacionadas ao Tylenol.

Comprimidos de Tylenol – 22/05/2025 (Foto: Eric Helgas/The New York Times)

Este é o primeiro processo movido por um estado aproveitando as alegações de Trump de que o uso de produtos com acetaminofeno, como o Tylenol, durante a gravidez poderia causar transtornos do neurodesenvolvimento. A questão é uma preocupação antiga entre alguns seguidores de Robert F. Kennedy Jr., principal autoridade de saúde do país, mas a ideia ganhou força com as declarações de Trump.

A Kenvue tem defendido repetidamente a segurança do Tylenol e rejeitado as alegações de Trump sobre o uso do medicamento durante a gravidez e o autismo.

“Vamos nos defender contra essas alegações infundadas e responderemos conforme o processo legal”, disse Melissa Witt, porta-voz da Kenvue, na terça-feira. “Estamos firmes ao lado da comunidade médica global que reconhece a segurança do acetaminofeno e acreditamos que continuaremos a ter sucesso na litigância, pois essas alegações carecem de mérito legal e suporte científico.”

Em outro processo, a Johnson & Johnson afirmou que sempre agiu de forma responsável ao alertar os consumidores sobre o risco comprovado de danos ao fígado pelo uso excessivo do Tylenol.

Clare Boyle, porta-voz da Johnson & Johnson, disse na terça-feira que a empresa “desfez-se de seu negócio de saúde do consumidor anos atrás, e todos os direitos e responsabilidades associados à venda de seus produtos de venda livre, incluindo o Tylenol (acetaminofeno), pertencem à Kenvue.”

Centenas de processos foram movidos nos tribunais estaduais e federais nos últimos anos por famílias que alegam que seus filhos foram diagnosticados com autismo ou TDAH após o uso de Tylenol durante a gravidez.

No maior grupo de casos, movido em tribunal federal, um juiz dos EUA em Nova York rejeitou os processos, citando falta de evidências científicas confiáveis. Os autores estão recorrendo da decisão, com uma audiência marcada para 17 de novembro.

Por anos, cientistas têm pesquisado uma possível conexão entre acetaminofeno e transtornos do neurodesenvolvimento, mas os estudos até agora apresentaram resultados mistos.

Grupos médicos contestaram o alerta da administração Trump em setembro, afirmando que o Tylenol é o único analgésico seguro para uso durante a gravidez para tratar febres altas. Se não tratadas, essas febres representam riscos sérios para a saúde do bebê e da mãe.

Aliado de Trump

Paxton, que desafia o senador John Cornyn, atual titular, na primária republicana do próximo ano, tem sido agressivo em mover processos alinhados às prioridades de Trump. Ele contestou os resultados da eleição de 2020, processou organizações sem fins lucrativos que defendem direitos de imigrantes e buscou remover legisladores democratas do cargo no Texas durante uma disputa sobre redesenho de distritos eleitorais.

Embora nem sempre tenha sucesso, os esforços legais de Paxton geraram forte apoio entre os republicanos do Texas.

No mês passado, a Food and Drug Administration (FDA) disse que buscava incluir um aviso no rótulo do medicamento sobre a conexão com transtornos do neurodesenvolvimento. A Kenvue disse que se oporia às mudanças, argumentando que “não são apoiadas pela ciência existente.”

A administração Trump e o processo de Paxton citam uma revisão científica recente conduzida por epidemiologistas da Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard e da Escola de Medicina Icahn do Mount Sinai. Esse estudo, que avaliou achados científicos existentes mas não produziu novos dados, encontrou evidências de uma ligação entre o uso de acetaminofeno durante a gravidez e o desenvolvimento de autismo e TDAH na infância.

Mais da metade dos 46 estudos incluídos na revisão encontrou correlação positiva entre o uso do medicamento durante a gravidez e transtornos do neurodesenvolvimento em crianças. Mas cientistas alertam que os estudos não provam que o acetaminofeno causa autismo, que é conhecido por estar ligado a uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais.

Mulheres grávidas que tomam acetaminofeno podem diferir de forma importante daquelas que não tomam, inclusive geneticamente. Um grande estudo com quase 2,5 milhões de crianças nascidas na Suécia concluiu que, ao considerar a genética da mãe, não havia associação entre acetaminofeno e transtornos do neurodesenvolvimento.

Estudos de agências de saúde — incluindo FDA e Agência Europeia de Medicamentos — avaliaram as evidências e concluíram que os resultados são inconclusivos.

No domingo, Trump voltou a abordar o tema em sua plataforma de mídia social, Truth Social. “Mulheres grávidas, NÃO USEM TYLENOL A MENOS QUE SEJA ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO,” escreveu.

O principal escritório de advocacia que representa os autores nos casos de danos pessoais, Keller Postman, também atua como consultor externo no processo de Paxton.

Esses casos de autores precisam superar o alto padrão de provar que o medicamento causou transtornos do neurodesenvolvimento nas crianças e que as famílias devem receber indenização.

Mas o processo de Paxton segue uma linha diferente, argumentando que Johnson & Johnson e Kenvue violaram a lei do Texas ao não informar os consumidores sobre os possíveis riscos do uso do Tylenol durante a gravidez.

Os tribunais do Texas costumam ser desafiadores para autores em casos de danos pessoais. A decisão de Paxton de mover o processo em um condado conservador e rural perto da fronteira com a Louisiana pode ter sido uma estratégia para encontrar um tribunal simpático ao seu caso.

c.2025 The New York Times Company



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